"UM DIA É PRECISO PARAR DE
SONHAR E, DE ALGUM MODO, PARTIR"
Amyr Klink
Já quis fazer medicina, já quis empreender, já quis entrar em uma multinacional e já quis passar em concurso público. Mas, na verdade, eu não queria nada disso. Só que eu ainda não sabia. Ainda estava tentando me localizar em alguma dessas caixas que a sociedade espera que você se enquadre.
Descobri que não queria mais fazer medicina no segundo ano de cursinho e confirmei o fato depois que optei pelo curso de Administração. Foi minha primeira decisão mais confiante, consciente e significativa. Empreender é interessante, mas, além de haver uma dependência muito grande do proprietário, a burocracia, as políticas e os impostos desanimam qualquer ser humano. Entrei em uma multinacional e concluí que, definitivamente, não tem nada a ver comigo. Só em pensar naquela rotina sem graça já me dá desânimo.
O concurso chamou a minha atenção pela estabilidade e pelo salário atraente. Assim, talvez valesse o esforço em ficar enclausurada em um local fazendo algo que não iria me satisfazer tanto para receber um salário que me proporcionasse momentos de prazer (viagens) durante as férias. Bom, será que valeria mesmo? Seria realmente isso o que eu almejara para a minha vida? Fazer o que não me inspira para desfrutar de momentos prazerosos (viagens) exclusivamente nas férias?
"A maioria das pessoas que eu conheço que esperavam para viajar pelo mundo, nunca viajaram. E, reciprocamente, muitas pessoas que esperavam por uma graduação ou um emprego estável e viajaram, ainda fizeram estas coisas, eventualmente". (Autor Desconhecido)
A resposta é única: não. Acho que ninguém no mundo deseja fazer o que não gosta, mas, infelizmente, muitas pessoas acabam abrindo mão dos seus sonhos para viver uma vida que a sociedade espera ou, simplesmente, acabam sobrevivendo por não saberem o que realmente querem, ou vão vivendo por diversos outros motivos.
Por toda a minha vida eu me perguntei qual a razão de eu ter vindo ao mundo, qual a minha missão aqui na Terra e o qual o meu dom. Fiquei sem resposta por muito e muito tempo. Mas, aos poucos, fui descobrindo o que eu não queria.
Não quero passar a semana contando os dias para o final de semana, nem ficar triste aos domingos à noite quando lembrar que no dia seguinte tudo voltará "ao normal". Não quero viver "no conformismo". Não quero que minha vida apenas aconteça.
"Não quero medir a altura do tombo, nem passar Agosto esperando Setembro, se bem me lembro... O melhor futuro este hoje escuro... Quero viver, quero ouvir, quero ver".
(Zeca Baleiro)
Ir a um escritório não tem NADA a ver comigo. Meu escritório é em casa, na praia, na montanha, no mundo, onde eu estiver. Por isso, desisti de tentar passar em concurso público. Esta foi minha segunda decisão mais confiante, consciente e significativa.
Confesso que essas fases de “cursinho pré-vestibular” e de “cursinho pré-concurso público” foram extremamente significativas. Acabaram sendo momentos de autoconhecimento e de decisões valiosíssimas. Gostei da experiência, mais ainda das descobertas.
“O que me mata é o cotidiano. Eu queria só exceções”.
(Clarice Lispector)
Após inúmeras angústias, crises, dúvidas e choros, eis que consigo responder às minhas perguntas, depois de 24 anos, 4 meses e 12 dias de vida. Dizem que devemos fazer aquilo que amamos, assim não teremos de trabalhar nenhum dia sequer das nossas vidas, não é? Então, eu perguntei: América, o que você mais gosta de fazer?
Respondi a mim mesma, com muita convicção, honestidade e simplicidade, uma palavra de apenas seis letras: VIAJAR! Não tem nada que me deixe mais feliz do que viajar. Respiro liberdade e tenho desejo de aventura. Amo descobrir novos lugares, apreciar novas paisagens e conhecer novas pessoas. Sou movida a sonhos e também à arte, sobretudo música e fotografia.
"Acredite na força dos seus sonhos, Deus é justo e não colocaria em seu coração um desejo impossível de ser realizado." (Autor Desconhecido)
A partir daí, parei de me cobrar tanto e comecei a entender porque não conseguia localizar a minha caixa: eu não nasci para viver em caixa. Então, obviamente, não haveria nenhuma, na prateleira do mundo, endereçada a mim, esperando para que eu não só a encontrasse, mas também entrasse para viver o resto da minha vida ali, enclausurada. Eu não nasci para ficar encaixotada em prateleiras. Chega!
Para mim, a vida não é quadrada, muito menos monótona. A vida é uma dinâmica, uma dádiva, um milagre. Como diria Lenine, a vida é tão rara, tão rara... Sendo assim, tenho sede de viver no volume máximo, sede de viver da forma como o Legião Urbana já havia alertado com relação ao amor, como se não houvesse amanhã porque se você parar para pensar na verdade não há...
Apesar de levar o nome do segundo maior continente do mundo - que, por sua vez, se divide em três - sou apenas uma gota d'água, apenas um grão de areia, mas com uma quantidade de sonhos infindável. Minha alma é desbravadora, meu espírito é livre, eu sou do mundo. Ao invés de viver em casa e passar as férias viajando, como ditam as regras, eu quero viver viajando e passar as férias em casa, com a minha família.
“E da janela do seu quarto, vendo uma vida de estrelas passarem por seus olhos, algo lhe dizia:
- Tá vendo aquele mundo lá fora? É seu, vai pegar!”
(Caio Fernando de Abreu)
Você pode até me perguntar qual o objetivo que eu desejo alcançar. Em primeiro lugar, não quero chegar ao fim da vida e cogitar a possibilidade de pensar naquele trecho da música de Titãs, que eu devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer. Além disso, confesso que com essa escolha eu pretendo enriquecer. Enriquecer muito. Só que enriquecer de aventuras, culturas, descobertas, experiências, histórias, lembranças, memórias, novidades etc.
Assim, terei a certeza que, se porventura ocorrer qualquer incidente e eu morrer antes da hora – ou quem sabe até na hora prevista – terei feito o que eu sei fazer de melhor, terei dado o meu melhor, terei sido o melhor que eu posso ser, e vivido como eu escolhi, como eu quis e como eu sempre sonhei: FELIZ!
Se faltarem sonhos,
não mais haverei razões para viver.
Se faltar ânimo para viajar,
não mais haverei fôlego para viver.
Viajarei só até quando eu respirar,
Amém.